Colatinense, ex-morador do bairro Operário, faz sucesso na França ao se apresentar no Olympia de Paris

Os nativos da ilha caribenha não conseguiam de modo algum falar seu nome direito. Daí o versátil músico Gilson Martins virou Gilayo, na língua crioula de Guadalupe onde viveu de música durante 23 anos após deixar Colatina (ES) e ganhar o mundo.

O trocadilho Gil Ayo colou. A canção autoral “Ayo” sucesso nas rádios e televisões antilhanas consolidou o codinome artístico do guitarrista, cantor e compositor colatinense.

Agora de volta a França onde reside, a profissão que abraçou aos 15 anos quando aprendeu a tocar o violão emprestado, rendeu a façanha de sair do Bairro Operário em Colatina ao Olympia de Paris.

Ainda Gilson Martins liderou nos Anos 1960  a primeira banda  de rock’n’roll do Espírito Santo, a fabulosa Jet Boys na onda dos Beatles e Rolling Stones.

unto aos amigos Romiques, o Mike (Já falecido), Zezinho, Alonso, Luizinho, Tatagiba e Beto reinou no meio musical capixaba até 1970.  

Tocaram com astros do Iê Iê Iê tal qual Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Martinha, Wanderléia e Rosemery entre outras estrelas nacionais.

O conjunto arrasava de verdade nas exibições, relata Moacyr Dalla Júnior, que tocou Hello Goodby  com os Jet Boys deitados no chão na histórica apresentação do show de abertura do Brazilian Beatles em Guarapari. 


Na conversa, o músico abre a mente e o coração ao contar para o jornalista Nilo Tardem a espetacular saga pelos palcos da vida, casos engraçados da época de pop star capixaba e planos pós pandemia.

Enquanto durou, a banda de rock deslumbrou uma geração de jovens da região norte e noroeste do estado. Um mérito que garante o registro no hall da fama tupiniquim ao Centenário de Colatina que acontecerá em 30 de dezembro de 2021.

ENTREVISTA:

Repórter. Há quanto tempo você possui paixão pela música ? 

Gil Ayo –   Nascido em Colatina, criado no Bairro Operário,  filho do carroceiro Geraldo Alves Martins – conhecido como Durango Kid  e de Nadir Vieira Martins, (que Deus os tenham) comecei a tocar  violāo com 15 anos de idade, ajudado pelo amigo Antonio Barbeiro, Toninho e Afonso Portugal.

Aos 16 anos comecei a trabalhar na Rádio Difusora de Colatina como sonoplasta em seguida também como locutor. Eu tinha o programa Encontro Com A Juventude ao meio dia. Uma característica era começar com uma música dos Beatles. Em 1970, a família se mudou pra Vitoria. Eu os segui. Trabalhei na Companhia Vale do Rio Doce (Vale )durante alguns anos.  Em 1982, mudei para a França onde estou até hoje.

Em seguida fui pra Vitória , onde fiz parte de todas as bandas de bailes mais reputadas da capital, a partir de 1974 comecei carreira solo,  compondo minhas próprias canções. É o que faço até hoje, atualmente na Europa, mais precisamente na França e no caribe francês.

 Repórter. Qual canção é capaz de ouvir repetidas vezes sem se cansar ou ficar doido?

Like A Roling Stones do Bob Dylan.

 Repórter. Três artistas que adoraria dividir no palco?

* Com  Almir Sattler,  Paul Simon ou Neil Yung. Já dividi com Moraes Moreira, além de outros aqui na Europa e Caribe.

Repórter. Conte um caso engraçado referente à sua profissão.

* Em um deles, o The Jet Boys comprou uma guitarra pra mim, com alavanca (novidade na época) fizemos um show no Cine Floresta em São Silvano. O carro de propaganda das Casas Valory saiu anunciando pela cidade, naqueles Jeep Toyota com um alto-falante em cima:  “grande show da banda The Jet Boys com Gilson Martins estreando sua guitarra de alavanca”… (Risos)

Já o segundo foi mais engraçado ainda: fizemos shows para  a campanha política do Pergentino de Vasconcelos. Viajávamos no caminhão do Beijinho Rossi. Em uma dessas apresentações fomos à Novo Brasil, depois do discurso do  Pergentino começamos a fazer nosso show. De repente começou um tiroteio. 

Continuamos a tocar. Aí  um cara puxou uma faca e o Pergentino pulou do caminhão e tomou a faca do meliante, em seguida, saímos em disparada com o caminhão, pois o negócio tava ficando feio, mas não houve feridos. Foi mais medo e barulho do que perigo. (Risos).

* Em numa noite chuvosa em frente a Radio Difusora conheci o saudoso Romiques de Oliveira, o  Mike, ele me propos de criar a Banda THE JET BOYS.

Era formado da maneira seguinte: Mike guitarra base, – Luizinho Barbosa Baixista,  substituído em seguida por Argeu Douglas, Alonso Alves era o cantor principal, Zezinho guitarrista – não me lembro seu nome de família -,  trabalhamos pouco tempo juntos, Tatagiba, baterista que morava em Barra de São Francisco e com isso dificultava os ensaios. Então convidei o Beto Pato Rouco ainda só com 17 aninhos. Tive que assinar um documento me responsabilizando por ele.

E assim começou a aventura de uma das primeiras bandas de Rock Iê Iê Iê do Espírito Santo. Durou de 1965 até 1970.

Auge – Era o ano de 1966.  Fizemos o concerto mais fabuloso de nossa carreira, na Choupana em Guarapari, quem tinha acabado de fazer show foi The Brazilian Beatles muito famoso na época ajudado pelo Moacizinho Dalla, o Moá. Ficamos hospedados na casa dele.

Também tínhamos o nosso motorista e protetor que viajava para todos os lados com a gente, o Paulinho Baixote, irmão do dono da Casa Esmar. 

– Auge 1967, na festa de Colatina, no palanque principal,  acompanhamos  as principais estrelas da época: Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Rosimery. 

Nessa mesma ocasião fizemos nosso primeiro show, no Club ARCI no Ibes em Vila Velha.  Quem conseguiu esse contrato foi o Marcão Lima – que Deus o tenha –  nosso grande apoiador. Fomos convidados em seguida para outras apresentações acompanhando também, a cantora Martinha e Odair José. 

Repórter. Quais foram as maiores influências musicais no início de carreira (essa não podia faltar camarada Martins)

*  Brasil:  Luiz Gonzaga – Nordeste – Pedro Bento e Zé da Estrada, Luizinho, Limera e Zezinho  da música sertaneja.

Internacional:  Bob Dylan, Paul Simon, James Taylor,  Crosby, STill, Nash and Young, The Beatles, The Rolling Stones, The Animals, Be Gees

Repórter. Por que escolher a França?

*Não escolhi a França,  poderia ter sido um outro país. Eu queria viajar. Sempre tive sonhos de viajar pelo mundo tocando minhas cancões.

Um amigo meu, Morris Brown na época, superintendente da Fronibla – CVRD -, me propôs de conseguir uma passagem grátis em um navio cargueiro. Assim foi feito.

Repórter. Porque a França ? Elza Camatta, esposa desse amigo Morris Brown, recebeu na casa deles uma amiga cantora a Betina Aarão também da cidade de Castelo, a que morava na França. 

Era casada com Maxime Le Forestier cantor francês muito famoso que também estava nesse jantar. Daí me propuseram ajuda caso eu quisesse viajar pra França. E assim foi 19 dias em um navio cargueiro de minério com a cantora brasileira capixaba de Afonso Cláudio Letícia Fafá. Embarquei em Ubu até a Bélgica. Em seguida Paris onde vivi 10 anos.

Depois fui morar no Caribe (na ilha francesa de Guadeloupe),durante 23 anos. Hoje de retorno a Paris. Até quando ? Só Deus sabe.

Repórter. Este ano teremos eleições aqui. O que o Gilson quer dos políticos de um modo geral e na cultura?

* Segui e sigo ainda de perto a evolução da nossa política, tem um lado positivo que é o acordar do nosso povo pelo interesse politico até entâo adormecido e sufocado pelo carnaval e o futebol.

O lado negativo é esse  ódio pelo outro  que vota no partido contrário ao dele. Isso me deixa triste. Vejo até amigos cortando relações por isso, inclusive eu fui excluido do facebook de um conterrãneo.

Quanto a nossa cultura, no meu ponto de vista, precisa ser revisada pois acredito  estar tendo uma inversão de valores. Esse assunto levaria horas  e horas para ser tratado, e tenho receio de ser mal interpretado por isso não me pronuncio mais do que isso.                                                                                                                                                                                                                
 Repórter. Já sofreu algum tipo de preconceito na carreira, sobretudo na época do The Jet Boys. Já passou por situação dessas?

*Sim. Na época, cabeludo, roqueiro, era mal visto por uma parte da sociedade, mas isso não me incomodou, eu gostava de provocar e chocar os conceitos.

Dentro do nosso nível humilde acredito termos contribuido para a evolução da mudança de valores pré-concebidos assim como fomos  inspirados por outros. Mas foi positivo. Apesar de tudo graças ao The Jet Boys e a Radio Difusora de Colatina consegui evoluir socialmente. 

Enfim, resumo da jornada: Da favela do Operário ao teatro mais mítico L’Olympia de Paris. Obrigado à Deus e ao apoio dos meus amigos colatinenses e da minha família.

Queria fazer um grande concerto em Colatina: principalmente na Festa Da Cidade e em frente minha casa no Bairro Operário onde tem a escola primária. Também um agradecimento a toda juventude daquela época que nos apoiaram de maneira incondicional.Citar nomes é difícil pois eram muitos, tenho medo de esquecer alguém.

ESFALA/Informação DDC.

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