Bispo de Colatina assina carta com orientações para eleições 2020

Os bispos da Arquidiocese de Vitória, Dom Frei Dario Campos, da Diocese de Colatina, Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, da Diocese de São Mateus, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, e o administrador diocesano de Cachoeiro de Itapemirim, padre Walter Luiz Barbiero Milaneze Altoé, divulgaram nesta sexta-feira (16) uma carta com “reflexões importantes para o discernimento do voto consciente, fruto do nosso compromisso batismal”. 

Eles fazem uma breve análise de conjuntura da situação do Brasil e do mundo em meio à pandemia da Covid-19, além de defender que, diante do processo eleitoral, os católicos avaliem de forma criteriosa os candidatos. O documento aponta que a pandemia “acirrou o cenário que já se apresentava de desigualdades sociais, provocando uma crise econômica mundial, intensificando a miséria, que se faz ver claramente no quadro alarmante da fome e da inexistência de teto para todos. Somando ainda a estas dramáticas consequências, nota-se o incremento das políticas do ódio e da violência, o aprofundamento de práticas racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas e de aniquilamento das políticas sociais”.

Em relação à postura dos católicos nas eleições, a carta afirma que é preciso avaliar os candidatos, “suas histórias e suas propostas, porque o voto tem consequências políticas, sociais, culturais, econômicas, ambientais”. E ainda que “as eleições municipais que se aproximam são uma oportunidade para encontrar caminhos que ajudem os municípios a superarem o momento difícil que atravessamos como cristãos e cidadãos. Pois todos somos responsáveis pelos candidatos que escolhemos e corresponsáveis com o que será feito, passadas as eleições, em nossos municípios”.

Entre as reflexões que os bispos e o administrador diocesano ressaltam como necessárias para que os católicos escolham seus candidatos estão a verdade e o bem comum, a liberdade e a democracia, a solidariedade e o enfrentamento à fome, a “chaga” da corrupção e a missão do leigo e da hierarquia da Igreja. A verdade e o bem comum, segundo a carta, devem levar em consideração que “o debate eleitoral deve ser feito a partir de propostas concretas que visem o bem-estar de toda a população, e não apenas de um grupo específico”.

Assim, aponta o documento, “não cabe em uma disputa eleitoral cidadã a mentira, o ódio e a intolerância”. Os cristãos devem “rejeitar as notícias mentirosas, os discursos de ódio e as práticas de racismo, intolerância e criminalização da pobreza”, não sendo possível que “católicos votem em candidatos que alimentam e fortalecem políticas do ódio, difundem notícias falsas e que sobrevivem às custas da violência que os mais pobres enfrentam todos os dias”. 

Quanto à liberdade e a democracia, a carta defende que “não podemos abrir mão de nossa liberdade de pensar, de falar e de votar. Da mesma forma que não podemos abrir mão da participação nos mandatos executivos e legislativos por meio de canais e instrumentos, já previstos em lei e outros, que precisam ser apresentados pelos candidatos. Qualquer proposta política que ameace a democracia deve ser rejeitada pelos cristãos católicos e os candidatos comprometidos com a democracia devem apresentar propostas concretas que viabilizem a escuta e a participação popular ao longo de seus mandatos”. 

No que diz respeito à solidariedade e ao enfrentamento à fome, o documento destaca que a pandemia fez com que a renda dos riscos aumentasse e a dos pobres diminuísse, além de ter acontecido a desvalorização do salário mínimo e redução do poder aquisitivo dos trabalhadores. “No momento em que o país bate recordes de produção de grãos, a cesta básica fica mais cara, aumentando o flagelo da fome. Neste contexto surgem candidatos que se utilizam da miséria dos pobres para efetuarem a sua promoção política pessoal. Estes candidatos não merecem ser eleitos. Diante da fome, as campanhas assistenciais são necessárias, contudo, a fome precisa ser enfrentada com propostas concretas de políticas públicas que diminuam as desigualdades sociais, gerando emprego e renda”. 

Outro item apontado na carta é o que as autoridades religiosas chamam de “chaga da corrupção”, que, para eles, “é uma praga que corrói o tecido político e social do país, sendo uma das causas da miséria que se abate sobre o povo”. Os religiosos salientam que “pouco tem sido dito ou feito sobre o enfrentamento à corrupção no país, como se ela estivesse acabada. Muitos, que em um passado recente faziam discurso de enfrentamento à corrupção, estão hoje emudecidos, fazendo vistas grossas”.

O documento também destaca que a corrupção “está aí, com práticas cada vez mais explícitas e hediondas, inclusive se manifestando ao longo do processo eleitoral”. E acrescenta: “há muitos candidatos que sequer sabem as atribuições de vereadores e de prefeitos. Para se enfrentar a corrupção, não podemos alimentar a troca de favores, votar atendendo a vontade de quem ocupa lugares de comando ou dos que se apresentam como pessoas acima do bem e do mal. O critério fundamental para se combater a corrupção é efetuar um voto ético, que defende a justiça social e o bem comum”. 

Na parte referente à missão do leigo e da hierarquia, é destacado que a Igreja proíbe a candidatura ou a participação político-partidária dos padres, reservando esta missão para os leigos, de maneira que os padres devem evitar apresentar-se como candidatos, apoiar ou participar de atividades de candidatos ou partidos durante o período eleitoral. Da mesma forma, orienta os leigos que disputarão as eleições a se afastarem das atividades litúrgicas e pastorais durante o período eleitoral, devendo retornar às mesmas após as eleições, qualquer que tenha sido o resultado”. 

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA 2020

Os bispos e o coordenador diocesano afirmam na carta que, ainda neste período eleitoral, será lançada a Cartilha de Orientação Política 2020. “Tradicionalmente, no período eleitoral, a Arquidiocese de Vitória e as Dioceses de Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus apresentam aos fiéis materiais com orientações práticas para a escolha de candidatos e candidatas. Tais orientações estão sempre em comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB], que nos ensina que a política é a forma mais sublime de exercer a caridade'”, reforçam.

ES-FALA/Informação Século Diário

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