“Hoje o melhor presente que eu receberia politicamente seria uma carta de alforria do Republicanos”, afirma Sérgio Meneguelli

Na linda e emocionante sequência final de “Um Estranho no Ninho” (1975), o gigantesco paciente de origem indígena quebra a janela do manicômio e sai correndo em direção à liberdade. Isso após ter praticado eutanásia em seu amigo, Randle McMurphy, protagonista do filme, em papel que rendeu o primeiro Oscar a Jack Nicholson. Rebelde e questionador, ele fora reduzido a um ser apático, um corpo inerte vegetando em seu leito, após sessões de lobotomia.

Da arte para a vida, o deputado estadual eleito com mais votos na história do Espírito Santo, Sérgio Meneguelli, compara-se justamente ao papel de Nicholson no clássico de Milos Forman para dizer que deseja sair de qualquer maneira do partido pelo qual se elegeu, o Republicanos – nem que seja abrindo a própria janela como faz o amigo de McMurphy, já que a janela oficial para troca de partido, no caso dele, só será aberta em março de 2026. “Se política fosse o filme ‘Um estranho no ninho’, eu sou o perfeito Jack Nicholson no Republicanos”, justifica.

Para conseguir sua liberação, Meneguelli não exclui apelar para a Justiça Eleitoral, pedindo reconhecimento de justa causa para se desfiliar sem perder o mandato conquistado na Assembleia. Antes disso, porém, pretende buscar uma solução negociada, convencendo a direção do Republicanos a assinar a sua “carta de alforria” (um documento comprometendo-se a não reivindicar o mandato na Justiça após a sua desfiliação).

“Hoje o melhor presente que eu receberia politicamente seria uma carta de alforria do Republicanos. […] Quero conseguir sair democraticamente, no bom jeito, sem briga. Não me sinto mais confortável. […] Se Papai Noel me desse esse presente, seria o melhor presente de Natal.”

O ex-prefeito de Colatina alega ter sido vítima de covardia por parte da direção partidária e que esta agora não merece mais sua confiança.

Apesar da imensa densidade eleitoral – provada por seu desempenho na eleição para a Assembleia –, Meneguelli de fato foi alvo da maior virada de mesa do processo eleitoral de 2022 no Espírito Santo. Até fins de julho, ele era tratado como pré-candidato do partido a senador pela direção estadual do Republicanos, presidido no Espírito Santo pelo ex-diretor-geral da Assembleia Roberto Carneiro.

Após algumas turbulências, a pré-candidatura de Meneguelli a senador também era endossada pela direção nacional da legenda. Contudo, no dia 28 de julho, o presidente da Assembleia, Erick Musso – aliado de Carneiro –, anunciou que ele mesmo seria o candidato a senador do Republicanos e que a Meneguelli caberia ser candidato a deputado estadual (um rebaixamento e tanto).

No mesmo dia, Erick enfatizou que a troca havia sido determinada pela direção nacional do Republicanos. A própria direção nacional nunca confirmou essa versão.

Meneguelli ainda resistiu. Com pouco tempo restando até o registro das candidaturas, tentou ser candidato a deputado federal ou até a governador, sem a menor brecha para isso. Restou-lhe mesmo disputar uma vaga na Assembleia. Nessa disputa, quebrou a banca. Erick foi mesmo candidato a senador. Chegou em 3º lugar, na eleição vencida por Magno Malta (PL), a quem, na visão de Meneguelli, o Republicanos fez um grande favor.

A insatisfação do ex-prefeito de Colatina com o partido ficou estampada em seu semblante durante a cerimônia de diplomação no TRE-ES, no último dia 19. Na ocasião, o recordista de votos para deputado estadual fez a mesma cara de poucos amigos que manteve durante a convenção estadual do Republicanos, em 31 de julho. Também destoando do clima de festa, fez questão de se mandar do tribunal tão logo recebeu seu diploma e desceu do palco com ele. O recado foi claro: estava ali tão somente para cumprir uma formalidade.

Foi com o diploma nas mãos, na saída às pressas do TRE, que Meneguelli atendeu à coluna e concedeu a entrevista abaixo. Nela, ele afirma que, “moralmente”, se sente senador eleito. “Eu tenho a consciência de que só não sou um senador porque impediram. Pelo povo, eu sou senador.”

Em tempo: Meneguelli pelo jeito é cinéfilo (e tem bom-gosto para filmes). Em outra entrevista à coluna, publicada em 11 de junho, ao comentar as ameaças que então já pairavam sobre sua pré-candidatura ao Senado, citou “O Pecado Mora ao Lado”, estrelado por Marilyn Monroe. Mas àquela altura não se referia a dirigentes do próprio partido. No mês seguinte veio a derrubada.

Agora, parece ter compreendido que o maior perigo, desde o início, residia bem mais perto do que ele poderia imaginar. “Teve a participação de lá [Brasília], mas a participação daqui foi maior. […] Não posso dizer que Erick Musso tenha sido o principal articulador do movimento que me impediu de concorrer ao Senado. Mas ele teve uma participação grande.”

ES FALA: informação crédito ES360/imagem TRRE-ES

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